segunda-feira, 29 de abril de 2019
A primeira noite
Conheceram—se nas filmagens de um filme medíocre mas bem financiado. Ele era uma vedeta de quarenta anos, ela uma jovem atriz revelação de vinte e três doces primaveras.
A ela avisaram: cuidado com ele. E ela ainda sem o conhecer, começou logo a ter interesse nele.
A ele disseram: vais gostar, faz o teu tipo. Ele, provocador respondeu: depois da Brigite qualquer uma faz o meu tipo.
A primeira semana de filmagens foi de trabalho intenso. Muitas cenas de exteriores que era preciso filmar às primeiras horas da manhã. À tarde eram as secas com o realizador a querer ensaiar para o dia seguinte. E à noite os produtores e agentes, chamavam a corja dos jornalistas e fotógrafos para promoverem a fita.
Foi numa dessas noites, numa badalada casa da moda em que se bebia e dançava que ele lhe meteu a língua na boca e lhe abraçou a cintura.
Ela queixou—se que os sapatos lhe magoavam os pés, ele descalçou—a e atirou para longe as sandálias de salto alto.
Passariam juntos doze anos.
Os fotógrafos presentes registaram os primeiros beijos.
O saliva na língua dele aromatizada de Bourbon e galoise a fundir—se na saliva da garganta dela refrescada por champanhe e com travo a erva.
— Vamos sair daqui, tou farto destes merdas!
Ela concordou.
— Onde moras?
— Estou a morar com uma amiga na zona da gare du lest.
—Telefonas do meu hotel a dizer que não vais ficar lá hoje...
Saíram de fininho sem se despedir.
Na rua mais beijos de língua e mãos debaixo do vestido.
O Renault dele seguiu por uma Paris quase adormecida desafiando a polícia nos controlos de velocidade e em todos os semáforos vermelhos.
No hotel caro, a recepcionista cúmplice perguntou—lhe se queria que servissem uma ceia.
Não era preciso.
Entraram de mãos dadas no elevador. O amor quase que acontecia ali em plena ascensão, não fosse o plim da chegando ao piso.
No quarto ele foi à casa de banho, faz xixi, lavou a cara, penteou—se com a mão e bochechou com pasta dos dentes.
Quando voltou ela ainda estava ao telefone com a amiga. Sorriu—lhe, despachou a amiga, desligou e entrou na casa de banho.
Ele despiu—se, sorriu, apagou o candeeiro de cima e deitou—se à espera.Tinha sido um dia longo, mas estava a correr bem.
Ela entrou na casa de banho, fechou a porta, sentou—se no trono de loiça e fez xixi. Abriu o chuveiro, despiu—se, cheirou—se e entrou no duche. Deixou que a água quente nas costas trabalhasse como relaxante muscular. Depois, conscienciosamente, lavou—se. Toda, por inteiro, dando especial atenção às partes que considerava mais necessitadas. Quando saiu do banho, envolveu—se numa toalha de turco com a área de um campo de futebol e ficou em frente ao espelho. Secou o cabelo fazendo um penteado assim meio despenteado. Gostou de se ver. Serviu—se então da água de Colônia, três borrifos: no pescoço, entre os seios, e sobre a púbis que à época se usava peluda.
Deixou a toalha no chão da casa de banho e nua e entrou no quarto.
...
O inevitável aconteceu: ele tinha adormecido.
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