terça-feira, 30 de abril de 2019

Brasil

Entramos no Brasil num domingo ao amanhecer. Vinhamos de Assuncion e era ainda noite cerrada quando atravessamos o Rio Paraná. Atrás, a mitica Ciudad de Leste capital do contrabando e outros tráficos, à frente todo o Brasilão a começar ali na Foz de Iguaçu. Mais de metade de um continente e toda esta imensidão à nossa frente antes de chegar ao Atlantico. Na fronteira falaram-nos em português pela primeira vez depois de semanas em castelhano de muitos e variados sotoques. Mesmo com a tensão da fronteira e os guardas armados quase que nos sentimos em casa. Na estação dos "onibus" não havia autocarros, nem bilheteiras, nem um quiosque aberto. Ninguem. Começou a chover. Entramos no unico taxi que ali estava parado. Acordamos o preço e seguimos viagem. Em conversa de circunstancia e porque continuava a chover perguntei: -- Tem chovido muito? -- Pensi em chuva! Pensi em chuva bem forti. Pois olhi qui aqui tem chovido mais! Rimos-nos os tres. Estavamos apresentados. Tentei falar de política. Esclareceu que nao tinha partido, mas deixou claro que estava com o Lula. -- Sabe moço, depois do Lula comprei minha primeira geladeira. Sabe o que é viver no brasil sem geladeira? Hoje é domingo e tou aqui trabalhando, mas tenho um filho fazendo o vestibular e minha filha tá fazendo a faculdade de medicina. Sem o Lula não tinha jeito não. Filho de trabalhador estudar qui nem filho de rico...Isso aí é benção di Lula! Depois de Foz de Iguaçu muitos quilometros, muitas estradas, muitas cidades. Tres mil quilometros a norte, em Salvador, Cuiuba Daltro, um amigo mais atento à situaçao politica e às manobras da direita dizia: -- Ou o Lula dá um jeito, ou o Brasil não tem jeito. Não tem jeito mesmo, concluo. Horas de mágoa e melancolia a pensar nesse Brasilão. Nesse Brasilão de gente humilde e trabalhadora com essa secreta e preciosa qualidade de nas piores circunstancias encontrar a alegria necessária para sorrir e ir levando. Tamo aí.

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