 Em Fevereiro de 1987, estava eu a duas semanas de fazer quinze anos. 
Ouvia cassetes de heavy metal que o Miguel AcDc me aconselhava. Gravava canções do programa de rádio que passava ao domingos à tarde do António Sérgio que se chamava Lança Chamas. Tinha deixado crescer o cabelo e   fazia o possível para sobreviver às hormonas, ao acne e aos problemas de roldanas que marcavam  aquela avassaladora adolescência em físico-química suburbana. Era estudante na escola dos Casquilhos, andava no oitava ano e não sabia que a vida era precisamente aquilo que estava prestes a acontecer-me. 
Na manhã do dia 23 de Fevereiro quando chegamos a escola logo às oito da manhã percebemos que se passava alguma coisa de diferente. Vivia-se um ambiente estranho. Alguém disse que morreu o Zeca Afonso e que a escola estava de luto. 
Eu sabia quem era o Zeca Afonso e associava as suas canções ao 25 de Abril. Nos intervalos os colegas mais velhos da associação de estudantes começaram a mobilizar para irmos todos ao funeral. Acho que foi o Nani  quem organizou a lista de quem queria ir. Só da escola onde eu andava foram uns três autocarro.  
Entre os cento e cinquenta estudantes, também eu estava. 
Lembro nesse dia de um professor politizado me dizer que o Zeca Afonso não era comunista e que a sua obra era património de todos os democratas.  Na altura não o entendi e achei que me estava a tentar usar o cadáver do Zeca ainda morno para atacar o PCP.  Eu, que nessa manhã ainda não era comunista, não gostei da conversa nem da manobra. Não mandei o professor à merda mas tive vontade. 
Às duas horas chegaram os autocarros que a câmara do Barreiro disponibilizou. O presidente na altura era o Hélder Madeira que eu só viria a conhecer vinte anos mais tarde,  mas que fiquei a ser admirador dele desde esse dia. 
No caminho para Setúbal éramos adolescentes em excursão.  Íamos todos para um funeral, mas não deixamos de ser adolescentes. Todos juntos éramos a festa para onde quer que fossemos. 
Chegamos quase em cima da hora. Em Setúbal alguém nos disse que a governadora civil que era do PPD queria proibir o funeral. Claro que era mentira,  quis só impedir o velório na escola secundária.... De qualquer maneira aquelas três ou quatro camionetas de estudantes do Barreiro traziam os nervos à flor da pele. 
Quando nos fundimos com a massa de gente que ia no cortejo sentimos todos que aqueles momentos que estávamos a viver seriam históricos. 
Momentos de grande emoção colectiva. Quando espontaneamente, aquela multidão cantou o Grândola acho que todos nos emocionamos. Quando o caixão do Zeca Afonso, coberto com uma bandeira vermelha, entrou no cemitério de Setúbal o dramatismo da cena marcaria todos os presentes. A emoção que se viveu naqueles momentos, ultrapassava a própria morte de um homem.  Era mais do que a morte de um cantor. Era mais que a morte de um artista. Aquele momento era o terminar de uma certa época. O fim de uma maneira de viver e fazer as coisas.  Era o ponto final de todo um processo. 
Nessa tarde ouvi a um dos esquerdalhos presentes dizer: isto hoje aqui é o 25 de Novembro cultural. 
Ou outra senhora,  uma mulher simples de sotaque serrado a dizer : morreu o vinte cinco de Abrril!
Eu tinha quatorze anos e tudo aquilo simultaneamente me marcou e me passou ao lado.  
Afinal era uma excursão da escola com tudo o que envolvia uma excursão da escola..havia os beijinhos, as curtes, os abraços nos bancos de trás do autocarro, as mãos metidas das debaixo das roupas, os copos, os cigarros e as passas e as loucuras próprias de centenas de adolescentes juntos. 
Lembro-me que chovia e que um dos colegas caiu dentro de uma campa aberta. Lembro-me da lama amarela do cemitério que sujou as minhas botas e as calças. Lembro-me que ficamos muito tempo dentro da camioneta a espera de alguns que ainda estavam perdidos. Lembro-me  ao que sabia a boca de uma colega que vim a beijar desde Azeitão até à chegada ao Barreiro, vinte quilómetros de beijo pela estrada velha. Não me lembro do nome nem da cara.  Lembro-me do sabor do beijo e da presidência com que empurrava para baixo a minha mão impedindo o desejado toque nas maminhas. 
E lembro-me do Grândola.  
Lembro-me daquela gente toda a cantar o Grândola. O Grândola entoado à entrada do cemitério de Setúbal fez-me sentir como se fizesse parte de alguma coisa. De uma coisa importante. De uma coisa muito maior que eu.  Uma coisa imensa em que a insignificância que eu era, por mais pequena que fosse, contava e fazia parte. 
Essa coisa grande de que fiz parte ali, à entrada  do cemitério  de Setúbal vai manter-se enquanto memória pessoal e confunde-se com a memória colectiva. 
Obrigado Zeca Afonso.
Em Fevereiro de 1987, estava eu a duas semanas de fazer quinze anos. 
Ouvia cassetes de heavy metal que o Miguel AcDc me aconselhava. Gravava canções do programa de rádio que passava ao domingos à tarde do António Sérgio que se chamava Lança Chamas. Tinha deixado crescer o cabelo e   fazia o possível para sobreviver às hormonas, ao acne e aos problemas de roldanas que marcavam  aquela avassaladora adolescência em físico-química suburbana. Era estudante na escola dos Casquilhos, andava no oitava ano e não sabia que a vida era precisamente aquilo que estava prestes a acontecer-me. 
Na manhã do dia 23 de Fevereiro quando chegamos a escola logo às oito da manhã percebemos que se passava alguma coisa de diferente. Vivia-se um ambiente estranho. Alguém disse que morreu o Zeca Afonso e que a escola estava de luto. 
Eu sabia quem era o Zeca Afonso e associava as suas canções ao 25 de Abril. Nos intervalos os colegas mais velhos da associação de estudantes começaram a mobilizar para irmos todos ao funeral. Acho que foi o Nani  quem organizou a lista de quem queria ir. Só da escola onde eu andava foram uns três autocarro.  
Entre os cento e cinquenta estudantes, também eu estava. 
Lembro nesse dia de um professor politizado me dizer que o Zeca Afonso não era comunista e que a sua obra era património de todos os democratas.  Na altura não o entendi e achei que me estava a tentar usar o cadáver do Zeca ainda morno para atacar o PCP.  Eu, que nessa manhã ainda não era comunista, não gostei da conversa nem da manobra. Não mandei o professor à merda mas tive vontade. 
Às duas horas chegaram os autocarros que a câmara do Barreiro disponibilizou. O presidente na altura era o Hélder Madeira que eu só viria a conhecer vinte anos mais tarde,  mas que fiquei a ser admirador dele desde esse dia. 
No caminho para Setúbal éramos adolescentes em excursão.  Íamos todos para um funeral, mas não deixamos de ser adolescentes. Todos juntos éramos a festa para onde quer que fossemos. 
Chegamos quase em cima da hora. Em Setúbal alguém nos disse que a governadora civil que era do PPD queria proibir o funeral. Claro que era mentira,  quis só impedir o velório na escola secundária.... De qualquer maneira aquelas três ou quatro camionetas de estudantes do Barreiro traziam os nervos à flor da pele. 
Quando nos fundimos com a massa de gente que ia no cortejo sentimos todos que aqueles momentos que estávamos a viver seriam históricos. 
Momentos de grande emoção colectiva. Quando espontaneamente, aquela multidão cantou o Grândola acho que todos nos emocionamos. Quando o caixão do Zeca Afonso, coberto com uma bandeira vermelha, entrou no cemitério de Setúbal o dramatismo da cena marcaria todos os presentes. A emoção que se viveu naqueles momentos, ultrapassava a própria morte de um homem.  Era mais do que a morte de um cantor. Era mais que a morte de um artista. Aquele momento era o terminar de uma certa época. O fim de uma maneira de viver e fazer as coisas.  Era o ponto final de todo um processo. 
Nessa tarde ouvi a um dos esquerdalhos presentes dizer: isto hoje aqui é o 25 de Novembro cultural. 
Ou outra senhora,  uma mulher simples de sotaque serrado a dizer : morreu o vinte cinco de Abrril!
Eu tinha quatorze anos e tudo aquilo simultaneamente me marcou e me passou ao lado.  
Afinal era uma excursão da escola com tudo o que envolvia uma excursão da escola..havia os beijinhos, as curtes, os abraços nos bancos de trás do autocarro, as mãos metidas das debaixo das roupas, os copos, os cigarros e as passas e as loucuras próprias de centenas de adolescentes juntos. 
Lembro-me que chovia e que um dos colegas caiu dentro de uma campa aberta. Lembro-me da lama amarela do cemitério que sujou as minhas botas e as calças. Lembro-me que ficamos muito tempo dentro da camioneta a espera de alguns que ainda estavam perdidos. Lembro-me  ao que sabia a boca de uma colega que vim a beijar desde Azeitão até à chegada ao Barreiro, vinte quilómetros de beijo pela estrada velha. Não me lembro do nome nem da cara.  Lembro-me do sabor do beijo e da presidência com que empurrava para baixo a minha mão impedindo o desejado toque nas maminhas. 
E lembro-me do Grândola.  
Lembro-me daquela gente toda a cantar o Grândola. O Grândola entoado à entrada do cemitério de Setúbal fez-me sentir como se fizesse parte de alguma coisa. De uma coisa importante. De uma coisa muito maior que eu.  Uma coisa imensa em que a insignificância que eu era, por mais pequena que fosse, contava e fazia parte. 
Essa coisa grande de que fiz parte ali, à entrada  do cemitério  de Setúbal vai manter-se enquanto memória pessoal e confunde-se com a memória colectiva. 
Obrigado Zeca Afonso. 
domingo, 23 de fevereiro de 2020
Obrigado Zeca
 Em Fevereiro de 1987, estava eu a duas semanas de fazer quinze anos. 
Ouvia cassetes de heavy metal que o Miguel AcDc me aconselhava. Gravava canções do programa de rádio que passava ao domingos à tarde do António Sérgio que se chamava Lança Chamas. Tinha deixado crescer o cabelo e   fazia o possível para sobreviver às hormonas, ao acne e aos problemas de roldanas que marcavam  aquela avassaladora adolescência em físico-química suburbana. Era estudante na escola dos Casquilhos, andava no oitava ano e não sabia que a vida era precisamente aquilo que estava prestes a acontecer-me. 
Na manhã do dia 23 de Fevereiro quando chegamos a escola logo às oito da manhã percebemos que se passava alguma coisa de diferente. Vivia-se um ambiente estranho. Alguém disse que morreu o Zeca Afonso e que a escola estava de luto. 
Eu sabia quem era o Zeca Afonso e associava as suas canções ao 25 de Abril. Nos intervalos os colegas mais velhos da associação de estudantes começaram a mobilizar para irmos todos ao funeral. Acho que foi o Nani  quem organizou a lista de quem queria ir. Só da escola onde eu andava foram uns três autocarro.  
Entre os cento e cinquenta estudantes, também eu estava. 
Lembro nesse dia de um professor politizado me dizer que o Zeca Afonso não era comunista e que a sua obra era património de todos os democratas.  Na altura não o entendi e achei que me estava a tentar usar o cadáver do Zeca ainda morno para atacar o PCP.  Eu, que nessa manhã ainda não era comunista, não gostei da conversa nem da manobra. Não mandei o professor à merda mas tive vontade. 
Às duas horas chegaram os autocarros que a câmara do Barreiro disponibilizou. O presidente na altura era o Hélder Madeira que eu só viria a conhecer vinte anos mais tarde,  mas que fiquei a ser admirador dele desde esse dia. 
No caminho para Setúbal éramos adolescentes em excursão.  Íamos todos para um funeral, mas não deixamos de ser adolescentes. Todos juntos éramos a festa para onde quer que fossemos. 
Chegamos quase em cima da hora. Em Setúbal alguém nos disse que a governadora civil que era do PPD queria proibir o funeral. Claro que era mentira,  quis só impedir o velório na escola secundária.... De qualquer maneira aquelas três ou quatro camionetas de estudantes do Barreiro traziam os nervos à flor da pele. 
Quando nos fundimos com a massa de gente que ia no cortejo sentimos todos que aqueles momentos que estávamos a viver seriam históricos. 
Momentos de grande emoção colectiva. Quando espontaneamente, aquela multidão cantou o Grândola acho que todos nos emocionamos. Quando o caixão do Zeca Afonso, coberto com uma bandeira vermelha, entrou no cemitério de Setúbal o dramatismo da cena marcaria todos os presentes. A emoção que se viveu naqueles momentos, ultrapassava a própria morte de um homem.  Era mais do que a morte de um cantor. Era mais que a morte de um artista. Aquele momento era o terminar de uma certa época. O fim de uma maneira de viver e fazer as coisas.  Era o ponto final de todo um processo. 
Nessa tarde ouvi a um dos esquerdalhos presentes dizer: isto hoje aqui é o 25 de Novembro cultural. 
Ou outra senhora,  uma mulher simples de sotaque serrado a dizer : morreu o vinte cinco de Abrril!
Eu tinha quatorze anos e tudo aquilo simultaneamente me marcou e me passou ao lado.  
Afinal era uma excursão da escola com tudo o que envolvia uma excursão da escola..havia os beijinhos, as curtes, os abraços nos bancos de trás do autocarro, as mãos metidas das debaixo das roupas, os copos, os cigarros e as passas e as loucuras próprias de centenas de adolescentes juntos. 
Lembro-me que chovia e que um dos colegas caiu dentro de uma campa aberta. Lembro-me da lama amarela do cemitério que sujou as minhas botas e as calças. Lembro-me que ficamos muito tempo dentro da camioneta a espera de alguns que ainda estavam perdidos. Lembro-me  ao que sabia a boca de uma colega que vim a beijar desde Azeitão até à chegada ao Barreiro, vinte quilómetros de beijo pela estrada velha. Não me lembro do nome nem da cara.  Lembro-me do sabor do beijo e da presidência com que empurrava para baixo a minha mão impedindo o desejado toque nas maminhas. 
E lembro-me do Grândola.  
Lembro-me daquela gente toda a cantar o Grândola. O Grândola entoado à entrada do cemitério de Setúbal fez-me sentir como se fizesse parte de alguma coisa. De uma coisa importante. De uma coisa muito maior que eu.  Uma coisa imensa em que a insignificância que eu era, por mais pequena que fosse, contava e fazia parte. 
Essa coisa grande de que fiz parte ali, à entrada  do cemitério  de Setúbal vai manter-se enquanto memória pessoal e confunde-se com a memória colectiva. 
Obrigado Zeca Afonso.
Em Fevereiro de 1987, estava eu a duas semanas de fazer quinze anos. 
Ouvia cassetes de heavy metal que o Miguel AcDc me aconselhava. Gravava canções do programa de rádio que passava ao domingos à tarde do António Sérgio que se chamava Lança Chamas. Tinha deixado crescer o cabelo e   fazia o possível para sobreviver às hormonas, ao acne e aos problemas de roldanas que marcavam  aquela avassaladora adolescência em físico-química suburbana. Era estudante na escola dos Casquilhos, andava no oitava ano e não sabia que a vida era precisamente aquilo que estava prestes a acontecer-me. 
Na manhã do dia 23 de Fevereiro quando chegamos a escola logo às oito da manhã percebemos que se passava alguma coisa de diferente. Vivia-se um ambiente estranho. Alguém disse que morreu o Zeca Afonso e que a escola estava de luto. 
Eu sabia quem era o Zeca Afonso e associava as suas canções ao 25 de Abril. Nos intervalos os colegas mais velhos da associação de estudantes começaram a mobilizar para irmos todos ao funeral. Acho que foi o Nani  quem organizou a lista de quem queria ir. Só da escola onde eu andava foram uns três autocarro.  
Entre os cento e cinquenta estudantes, também eu estava. 
Lembro nesse dia de um professor politizado me dizer que o Zeca Afonso não era comunista e que a sua obra era património de todos os democratas.  Na altura não o entendi e achei que me estava a tentar usar o cadáver do Zeca ainda morno para atacar o PCP.  Eu, que nessa manhã ainda não era comunista, não gostei da conversa nem da manobra. Não mandei o professor à merda mas tive vontade. 
Às duas horas chegaram os autocarros que a câmara do Barreiro disponibilizou. O presidente na altura era o Hélder Madeira que eu só viria a conhecer vinte anos mais tarde,  mas que fiquei a ser admirador dele desde esse dia. 
No caminho para Setúbal éramos adolescentes em excursão.  Íamos todos para um funeral, mas não deixamos de ser adolescentes. Todos juntos éramos a festa para onde quer que fossemos. 
Chegamos quase em cima da hora. Em Setúbal alguém nos disse que a governadora civil que era do PPD queria proibir o funeral. Claro que era mentira,  quis só impedir o velório na escola secundária.... De qualquer maneira aquelas três ou quatro camionetas de estudantes do Barreiro traziam os nervos à flor da pele. 
Quando nos fundimos com a massa de gente que ia no cortejo sentimos todos que aqueles momentos que estávamos a viver seriam históricos. 
Momentos de grande emoção colectiva. Quando espontaneamente, aquela multidão cantou o Grândola acho que todos nos emocionamos. Quando o caixão do Zeca Afonso, coberto com uma bandeira vermelha, entrou no cemitério de Setúbal o dramatismo da cena marcaria todos os presentes. A emoção que se viveu naqueles momentos, ultrapassava a própria morte de um homem.  Era mais do que a morte de um cantor. Era mais que a morte de um artista. Aquele momento era o terminar de uma certa época. O fim de uma maneira de viver e fazer as coisas.  Era o ponto final de todo um processo. 
Nessa tarde ouvi a um dos esquerdalhos presentes dizer: isto hoje aqui é o 25 de Novembro cultural. 
Ou outra senhora,  uma mulher simples de sotaque serrado a dizer : morreu o vinte cinco de Abrril!
Eu tinha quatorze anos e tudo aquilo simultaneamente me marcou e me passou ao lado.  
Afinal era uma excursão da escola com tudo o que envolvia uma excursão da escola..havia os beijinhos, as curtes, os abraços nos bancos de trás do autocarro, as mãos metidas das debaixo das roupas, os copos, os cigarros e as passas e as loucuras próprias de centenas de adolescentes juntos. 
Lembro-me que chovia e que um dos colegas caiu dentro de uma campa aberta. Lembro-me da lama amarela do cemitério que sujou as minhas botas e as calças. Lembro-me que ficamos muito tempo dentro da camioneta a espera de alguns que ainda estavam perdidos. Lembro-me  ao que sabia a boca de uma colega que vim a beijar desde Azeitão até à chegada ao Barreiro, vinte quilómetros de beijo pela estrada velha. Não me lembro do nome nem da cara.  Lembro-me do sabor do beijo e da presidência com que empurrava para baixo a minha mão impedindo o desejado toque nas maminhas. 
E lembro-me do Grândola.  
Lembro-me daquela gente toda a cantar o Grândola. O Grândola entoado à entrada do cemitério de Setúbal fez-me sentir como se fizesse parte de alguma coisa. De uma coisa importante. De uma coisa muito maior que eu.  Uma coisa imensa em que a insignificância que eu era, por mais pequena que fosse, contava e fazia parte. 
Essa coisa grande de que fiz parte ali, à entrada  do cemitério  de Setúbal vai manter-se enquanto memória pessoal e confunde-se com a memória colectiva. 
Obrigado Zeca Afonso. 
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