terça-feira, 30 de abril de 2019

Padres, bancos e chefes de policia

Tinha 19 anos e acreditava num universo de possibilidades. Meti um saco-cama e umas latas de sardinha numa mochila num grupo que éramos dois apanhei o comboio para o norte. Atravessamos a ponte férrea sobre o rio Minho e ao entardecer e chegamos a Santiago. Ano compostense e a cidade cheia. Jantamos sardinhas, pão galego e vinho verde num jardim. A ideia era apanhar um comboio regional até Lugo. Íamos ter com o Pedro Miguel Cabrita Feijao a Vilauxin. Na estação informaram que para Lugo só havia comboio as oito da manhã. Eram umas dez da noite e começou a chover. Ficamos até à meia noite. Fecharam a estação e só abriam às seis e meia da manhã... A chuva carregou na força. Procuramos um sítio para ficar. À chuva batemos à porta de vários albergues para peregrinos. Completo, completo. Padres, freiras e beatos a dizerem nos que não. A chuva cada vez mais forte e fria. Com o cartão multibanco entramos no átrio de uma agência da caja. Tiramos as mochilas e estendemos os sacos cama. Não era confortável mas estava seco. Não passou nem meia hora. As camaras a trabalhar e o estado a servir os bancos. Um carro da polícia parou do lado de fora e saíram três policiais para nos tirarem dali. Explicações em português e portenhol Pedimos estadia na esquadra até abrirem a estação dos comboios. Na polícia também há gente boa. Deixaram nos por as mochilas num canto, usar as casas de banho e as toalhas secas. Estender os sacos camas não que já era abuso. Dormitamos umas horas nos bancos de madeira. A meio da noite chegou um carro patrulha. Era o chefe e vinha zangado. Tratou logo de nos por na rua e dar uma pissada nos agentes que nos desenrascaram. Outra vez molhados e com frio. Caminhamos à chuva mais de uma hora até à estação dos comboios. Ainda esperamos um bocado até nos abrirem a porta do chão seco. O dia nasceu chuvoso e comemos ovos cozidos que sobraram do farnel. Nessa noite aprendi uma lição para a vida, quando chegam as tempestades, nunca devemos contar com ajuda de padres, bancos ou chefes de polícia.

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