terça-feira, 30 de abril de 2019
prohibido fumar
Tínhamos acordado bem cedo nesse dia.
Ao nascer do dia, apanhamos um autocarro em Valparaíso junto ao pacífico chileno e atravessamos os Andes.
Passamos a fronteira entre o Chile e a Argentina ao final da manhã e seguimos até Mendonza. Cidade mineira nos Andes argentinos. Chegamos ao meio da tarde e ficamos a fazer tempo e a beber cervejas numa tasca ao lado da estação da rodoviária. Igual a todas as tascas ao lado de todas as rodoviárias do mundo.
Compramos bilhetes para a proxima camioneta que seguia na direção de Córdoba. Saia as onze da noite. Teriamos de mudar as quatro da manhã e para fazer o transbordo. Chegaríamos as oito e meia.
A tasca da rodoviária fechou. Carregamos as mochilas e procuramos um sítio próximo para continuar a hidratar com cervejas e esperar pela hora da viagem.
Sentamos-nos na esplanada de um bar onde estavam mineiros índios a beber cerveja. Pedimos mais uma garrafa. Depois chegaram as prostitutas. Novas, quase adolescentes, indias, coloridas, ruidosas e algumas oxigenadas. As mãos de camponesas com unhas pintadas de cores vivas.
Quando a festa estava a ficar mesmo animada, tivemos que sair e entrar na camioneta.
Embalados pelos balanços da estrada que agitava o mar de cerveja que tínhamos mamado, adormecemos.
Acordaram nos a meio da noite. Precisamente no imenso nada da Argentina rural.
Tínhamos que mudar de autocarro. Vinha atrasado mas estava a chegar.
Carregamos as duas mochilas e arrastámos as duas inesperadas ressacas para a noite quente.
Não se podia fumar.
A minha companheira de viagem e de vida, tem, na generalidade despertares difíceis. Aquele estava a se-lo especialmente.
Pegou no cigarro.
Eu avisei:
-- olha que é proibido fumar...
-- aí é? Então olha para mim a prevaricar! Chama a polícia e manda-me prender.
Confesso que considerei a sugestão. Mas como não sou de alimentar discussães, disse-lhe:
-- É por isso que te amo.
Surpreendentemente sorriu.
Aproveitei para fotografa-la.
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