domingo, 5 de julho de 2020

O telegrama de Estaline

Partindo de Samarcanda, no Uzbequistão no século XIV, Timur-i-Lenk criou um império.
Quando o Timur-i-Lenk, aos sessenta e nove anos morreu sem avisar, os vivos de Samarcanda fizeram-lhe um túmulo proporcional à majestade da monumental cidade. Depois dedicaram-se a matar-se uns aos outros para ver quem é que ficava com as pratas.
A coisa manteve-se permanentemente instável durante seiscentos anos. Vieram os turcos, os chineses, os ingleses e os russos. No Uzbequistão, lá metido no túmulo de Samarcanda, o velho tirano repousou durante seis séculos, alheado às invasões, convulsões e revoluções.
Quando a Revolução Soviética aconteceu, em 1917 o Uzbequistão era uma província do império Russo. Em 1918 foi fundada a primeira universidade do país, em Tasquente.
Em 1924, os uzbeques comunistas criaram a República Soviética do Uzbequistão.
A universidade de Tasquente desenvolveu um trabalho importante ao nível da arqueologia em toda a Ásia Central.
Os arqueólogos de Tasquente no início dos anos trinta do século vinte, começaram a estudar, registar, catalogar e preservar o imenso tesouro que é Samarcanda.
Por volta de 1935 pediram autorização para abrir o túmulo do Timur e exumarem o corpo.
Quando se soube das intenções dos arqueólogos, surgiu algum desconforto e descontentamento entre os uzbeques. Os mais tradicionalistas e supersticiosos, diziam que era mau abrir o túmulo de um tirano. Os mais pragmáticos, achavam que haviam outras prioridades.
A burocracia já se sabe é transversal; às eras, impérios e ideologias. A autorização demorou a chegar. Quando finalmente veio a carta com o papel carimbado a autorizar vivia-se o final de 1940.
É sabido que o inverno por aqueles lados é duro.
Só já no final da primavera de 1941 foi possível reunir os meios materiais e humanos e levar pessoas e equipamento para Samarcanda.
Na Segunda-feira, dia 16 de Junho de 1941, os arqueólogos começaram a trabalhar no túmulo de Timur-i-Lenk. No dia 20, uma sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos, chegaram ao corpo do Timur e tiraram o que restava para fora do caixão.
Nas ruas de Samarcanda, nessa sexta e nesse sábado, a população manifestou-se indignada. Tumultos que foi preciso reprimir. As pessoas, sobretudo as mais antigas, falavam na maldição do Timur-i-Lenk. Que uma grande desgraça iria cair sobre uzbeques e russos. Os arqueólogos tiveram de se esconder na esquadra da policia.
A delegação local da NKVD, o serviço de informações e segurança, mandou um telegrama para o Kremlin a relatar o sucedido.
Um dos comissários levou o assunto às mais altas instâncias em Moscovo. Não pelos factos em si, mais para apresentar trabalho feito e porque lhe tinham dito que era preciso estar muito atentos às provocações.
Na noite de sábado para domingo, a Alemanha Nazi atacou a União Soviética.
Na madrugada desse domingo dia 22 de Junho de 1941, foram acordar o Estaline. As noticias da invasão chegaram primeiro, depois o líder máximo do comunismo cientifico, quis saber de tudo o que se passava em todo o lado. Já que estava acordado, não ia perder tempo, mandou vir a si os relatórios de todas as republicas. E claro que tambem soube dos tmultos em Samarcanda e da Maldição do Timur-i-Lenk.
Acontece que o homem era oficialmente ateu, absolutamente pragmático mas secretamente guardava a alma supersticiosa do camponês da Geórgia que nunca deixou de ser...Deu as ordens necessárias para proteger a União Soviética e iniciou aquilo que a história vai a chamar a Grande Guerra Patriótica, a seguir, mandou ele próprio um telegrama para Samarcanda a determinar que enterrassem o Timur e selassem o túmulo.
A guerra foi o que foi.
Morreram 20 milhões de soviéticos.
O Estalin morreu oito anos depois da vitória sobre o nazi-fascismo.
O Uzbequistão tornou-se independente em 1991 três meses antes dos russos declararem o fim da União de Sovietes.
Muita coisa mudou, mas ninguém voltou a abrir o túmulo do Timur-i-Lenk depois do telegrama do Estaline para Samarcanda.

As suas campanhas militares atravessaram as estepes e chegaram às portas de Bagdad. Pelo caminho, os seus exércitos de tajiques e uzbeques, aviaram nos turcos e venceu imperador otomano, Bajazeto I. Timur e o seu exército de facínoras matavam, roubavam e violavam por onde passavam. A única excepção eram os escultores, arquitectos, pedreiros e pintores. Poupava-lhes a vida e recambiava esta malta para Samarcanda onde os punha a trabalhar. Samaracanda tornou-se a mais monumental das cidades da imensa estepe.

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