A lei criada em Lisboa, não impediu que Baquaqua fosse escravizado em Uidá por esse esclavagista minhoto e posteriormente vendido para o Brasil. Tudo com a conivência participação e protecção das entidades oficiais portuguesas. Viajou raptado dentro de um navio negreiro que saiu de uma fortaleza militar portuguesa em 1844.
Mahommah Baquaqua era já bilíngue quando foi raptado, falava e escrevia em árabe e ajami, a sua língua materna. Aprendeu português da pior maneira com os seus raptores.
No Brasil, esteve em Pernambuco, onde ele foi comprado por um padeiro português. O padeiro usou a sua mão de obra escrava para construir uma padaria e fornos de pedra. Baquaqua tentou fugir duas vezes, foi capturado pela policia militar de Pernambuco, torturado pela policia, foi depois entregue ao padeiro que também o torturou. Recuperado fisicamente das torturas, tentou o suicídio. O padeiro fez as continhas, avaliou o potencial prejuízo pela morte do homem que escravizava e decidiu vender o Mahommah Baquaqua. Calhou-lhe como dono um capitão de um barco que fez dele marinheiro sem salário a trabalhar por restos de comida e água estagnada.
Farto de maus-tratos e espancamentos, Baquaqua teve oportunidade de fugir em Nova York depois de descarregar um navio de café, por volta de 1849. Aproveitou e desapareceu nas docas.
Nos Estado Unidos, sem documentos mas também sem dono a reclamar a sua propriedade, consegue embarcar para o Haiti. Alguém lhe disseram que era um país novo criado por homens como ele que tinham sido escravizados. Em Port au Prince, aprendeu a falar e escrever em francês para alem do criolo haitiano. Do Haiti seguiu para o Canadá onde alem de melhorar o seu francês, teve oportunidade de estudar inglês e história. No Canadá trabalhou com o editor o editor Samuel Moore, que o incentivou a escrever.
Voltou a Nova York em 1854, desta vez com documentos canadianos, onde publicou um livro autobiográfico sobre a sua condição de escravo: “An Interesting Narrative - Biography of Mahommah G. Baquaqua”
Cinco anos depois, por volta de 1860, viajou para a Inglaterra na esperança de voltar ao Benin. O último registo histórico sobre Mahommah G. Baquaqua é de 1857, numa carta escrita em Inglaterra para o seu amigo e editor no Canada, Samuel Moore. Baquaqua explica que a luta pela liberdade e justiça não se resumia à luta legalista pelo fim da escravatura, havia muito mais a fazer.
Desde esse ano de 1857, até hoje que não se sabe por onde anda o Baquaqua. Eu cá, acho que o gajo anda por aí... porque ainda há muito por fazer!
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