terça-feira, 30 de abril de 2019
el comandante
La Habana. Finais de 1997.
Para trás um filho e um casamento em ruínas. Meses após primeiro divorcio. Pela primeira atravassei o atlantico, esse mar a que na America Latina chamam "el charco". Lembro-me especificamente da tarde em que me tiraram a fotografia. Tinhamos ido a uma especie de uma quinta algures na estrada para Pinar del Rio buscar carne de porco. Era o periodo especial e não havia muito para comer. A carne era um bem precioso. Os cubanos e residentes estrangeiros fora dos circuitos turisticos tinham de se desenrascar. E desenrascavamos-nos.
O carro era das Nações Unidas e estava a ser conduzido por uma amiga belga. Eramos eu, a belga e dois cubanos.
Foi na volta para La Habana. Levavamos uma perna e uma mão de porco dentro de um bidom de lata. Vinha a carne envolta em papel de jornal e com umas duzias de embalagens de iogurte cheias de agua e congeladas a garantir um temperatira refrigerada. Estavam mais de 30 graus e muita humidade, urgia congelar, salgar ou cozinhar a carne.
Subitamente e sem nada que se fizesse esperar um engarrafamento no meio de nada... A fila não tinha muitos carros, uma ou duas dezenas, mas estava completamente parada num cruzamento.
-- Que passa?
-- Ni ideia. Dizem os cubanos.
Saí para fumar e a belga fez a fotografia.
Os carros parados, o calor e a carne la atrás em risco de vida...
Avancei uns metros.
A policia lá a frente a cortar a estrada.
O ajuntamento a volta dos condutores, transeuntes, biciclistas, boleiistas e viajantes parados.
Falo com o policia
-- Que passó compañero?
-- No pode passar.
O policia estava tenso, e duro, coisa rara em cuba, seja policia ou civil...
-- Si, vejo que no, pero porquê?
-- No pode passar.
Estavamos nisto e vem uma comitiva de duas motas, um jipe miitar e um carro civil grande que pára. Abre-se o vidro e o Fidel Castro acena. Todos entramos em delirio para saudar o Comandante. O carro arrancou e só tivemos tempo para retribuir o aceno.
Após a euforia geral começamos todos a voltar para as maquinas de transporte.
Volto a falar com o policia, já sorridente e descontraído.
-- Compañero, porque no diciste que era el Comandante? Porque no explicaste que teniamos que esperar por eso...
-- Compañero internacionalista, hay cosas que no se explican!!!
E tinha razão.
Quase vinte anos depois, quando penso no Fidel, no que foi, e no que simboliza, lembro-me dessa tarde em que nos cruzamos pela primeira vez.
Hay cosas que no se explican!
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