terça-feira, 30 de abril de 2019
Sumo de laranja
Na passagem da decada de oitenta para a de noventa, fui a uma festa numa fazenda em pegões. Tinha uns dezassete anos e bebi demais durante a noite. A manha surgiu fria e luminosa num laranjal. Laranjas doces e sumarentas a repor o equilibrio balancado pelo alcool. Comi umas quantas. Matavam a sede e desenjoavam. Comi mais.
A tarde cheguei ao Barreiro, a casa dos meus pais, deitei-me e tentei recuperar o sono. Foi ai que me chegou a agonia. Corri para a casa de banho. Ocupada. Abri a porta da dispensa, tirei a esfregona dentro do balde e vomitei através do escorredor de plastico da esfregona para dentro do balde.
Ao longo da minha vida, sempre tentei evitar que os que amo assistam a determinados espectáculos... daquela vez nao consegui...
O meu pai, de pé, assistia ao despejo.
De joelhos no chão, limpando as lagrimas dos olhos e a baba dos cantos dos labios, verifiquei que a poupa e os caroços das laranjas tinham ficado no escorredor... e que o balde estava cheio de sumo...
Tentando justificar o injustificavel, disse ao meu pai:
--- Foram as laranjas... fizeram-mal... comi duas laranjas ao pequeno almoço e agora olha... só sumo de laranja...
Irónico e sarcastico como só o meu pai sabe ser, respondeu-me:
--- Duas laranjas deram esse sumo todo?Devias registar a patente e comercializar...
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