terça-feira, 30 de abril de 2019

No Rajastão com Lorca

No Rajastão com os herdeiros do Lorca. Em finais de 2003 inícios de 2004 voei para o norte da Índia. Era a terceira vez que pisava o chão da Mãe Índia que é assim que lhe chamam essa imensa multidão de indianos. Cheguei tarde a meio da noite. Tinha feito umas quinhentas escalas para poupar uns trocos o que fez aterrar em Nova Déli pelas quatro da manhã. As minhas anteriores experiências na Índia, tinham ensinado que Déli é uma cidade maravilhosa para chegar e para partir...mas não devemos ficar por lá muito mais tempo porque a cidade já está cheia com os 20 milhões de habitantes. Por isso, segui directo do aeroporto para a estação de comboios. A ideia era comprar bilhetes para o norte, no próximo comboio que saísse. Acontece que a bilheteira da estação estava fechada mas estavam abertas as quinhentas mil micro agências de viagem a funcionarem 24 horas por dia à volta da estação. Entrei numa dessas casas que eram agência de viagens, loja de fotocópias, ciber café, pensão, armazém e outras valências inarráveis. Não dormia há uns dois dias...tinha fome sono e frio, mas também tinha a noção que quanto mais conseguisse centralizar as compras dos bilhetes de comboio maior seria o desconto... A pessoa que ia comigo, aterrou em cima da mochila e adormeceu no chão. Eu fiquei sentado numa mesa baixinha com o gajo da agência a negociar e planificar os preços dos bilhetes de comboios para três semanas de viagens. Lugares, percursos, horários, paragens e preços. Pelas dez da manhã saímos da agência no caos de Déli num Tata, um carro indiano que fazia lembrar o antigo Renault 5 mas todo em plástico. Por menos rúpias do que as viagens de comboio, aluguei o carro mais o seguro. Conduzir à esquerda no caos de Déli e sair da cidade tiraram me completamente o sono. No carro havia um rádio com leitor de cassetes. No leitor uma cassete. E na cassete estavam os Aguaviva. Rodamos quase quatro mil quilómetros entre o Rajastão e os estados do Norte da Índia. E a banda sonora foi sempre a mesma. Por uma estranha alquimia de memórias, associo o Rajastão aos aguaviva. Quando ouço esta música particularmente, fecho os olhos e cheira me a caril.

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