segunda-feira, 29 de abril de 2019
Robinson
O período da caça às bruxas foi um período tramado. Quando a extrema direita americana caiu a matar sobre Hollywood deu uma machadada tremenda sobre o cinema e os filmes não voltaram a ser os mesmos.
O tema da "caça às bruxas" apesar do impacto que teve na história do cinema continua a ser tabu na América e são raras as fitas sobre o assunto.
Aqui há uns três ou quatro anos saiu um filme sobre o escritor e argumentista Dalton Trumbo. O Trumbo era um gajo com eles no sítio e foi preso em 48 porque se recusou a colaborar com o fascismo do FBI e ser um instrumento da perseguição aos comunistas. Foi levado a tribunal inquisitorial chamado Comité de Actividades Anti-Americanas.
Trumbo e outros nove democratas foram presos porque se recusaram a responder se eram comunistas ou tinham ligações ao Partido Comunista. Foram o grupo dos Dez de Hollywood: Alvah Bessie, Herbert Biberman, Lester Cole, Edward Dmytryk, Ring Lardner Jr., John Howard Lawson, Albert Maltz, Samuel Ornitz, e Adrian Scott.
Entre estes dez, ia um chibo, ou dito de uma forma politicamente correcta, ia um senhor que decidiu mudar de ideias. Dmytryk denunciou vários membros do partido comunista e a sua delação comprou a libertação antecipada. Os outros nove cumpriram a pena na totalidade.
Estes são os factos.
No filme que hollywood pariu sobre o Trumbo, o chibo passou a ser o Edward G. Robinson. Ora não só é mentira como é também uma forma de fazer um ajuste com a história.
O Eduard G Robinson não era comunista, até parece que era membro do Partido Democrata, mas ao longo data sua vida e particularmente durante os duros anos da caça às bruxas, esteve lado a lado com os comunistas. Sempre: politicamente em organizações unitárias e pessoalmente solidário com amigos que foram perseguidos.
Fazer do Robinson um delator é não só escarrar no prato da sopa da memória mas é também sujar de gosma o pano da história de um homem bom e sobretudo um grande actor.
Foi o Robinson que inventou o gangster de hollywood e que serviu de inspiração a Humphrey Bouvard, James Cagney, ao Brando e até ao De Niro.
O Robinson chegou à america como uma imigrante pobre, cresceu pobre e ganhou dinheiro como actor mas não esqueceu nunca os seus amigos dos bairros por onde viveu.
O seu talento fica escarrapachado nas emoções das personagem que o Robinson criava, que mesmo sendo criminosos não deixavam de ser humanos. Os gangsters do Robinson, mostraram na sua complexidade o lado humano do bandido.
Em tempos de tão duros julgamentos morais em que vivemos, que atrás de cada avatar do Facebook se esconde um Torquemada em botão, rever o Edgar G Robinson devia ser obrigatório.
Haver um argumentista que estando o homem morto há tanto tempo agora lhe vem chamar delator, é coisa triste.
Merecia a tromba amolgada por um dos personagens do mestre
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